Escreveria alguma coisa bonita, pensou. Mas primeiro mudaria essa fonte automática de quando as postagens ainda estão sendo editadas, porque a fonte tem um efeito direto sobre o que ela escreve. Afinal, já que nem sempre se pode usar o punho e uma folha de papel convidativa às suas canetas, que pelo menos se possa escolher a fonte. Verdana, resolveu por fim. E agora era tudo apenas questão de inspiração...
Lembrar-se disto fez com que a escolha da fonte se reduzisse a uma tarefa simples, quase mecânica. Inspirar-se, sim, poderia ser múltiplas vezes mais trabalhoso. E nem seria. Nem seria se o dia houvesse amanhecido outro, se a rua inteira não estivesse tão monótona, se os dias anteriores houvessem sido mais alegres e as noites mais bem dormidas. Mas hoje era preciso procurar em volta por uma daquelas ideias que estalam de repente e rendem um texto completo. E procurando, era possível ver apenas um livro logo à sua frente, sobre a mesinha. Clarice, pouco surpreendentemente. Ao lado do livro, algumas faturas de cartão de crédito, papéis para recados e o telefone que há horas não tocava - fato que tornava tudo menos inspirador. Uma Bic preta, uns textos da faculdade... nada demais. E nada-demais não faz efeito quando se quer escrever algo bonito. Abriu então Clarice ao acaso e, ao final de uma das crônicas, na página 137, leu:
"Tudo o que dá certo é normal. O estranho é a luta que se é obrigado a travar para obter o que simplesmente seria o normal."
Pronto. Pensaria no assunto. Por enquanto, havia enfim dado certo e com normalidade: ali estava o algo bonito que ela gostaria de escrever.
Nenhum comentário:
Postar um comentário