Esta é mais uma das criaturas antropomorfizadas e vítimas da metalinguagem. Não nos julgue: miseráveis é o que seríamos se as encontrássemos desfalecidas em suas submersões ontológicas e nada fizéssemos por elas! E é assim, intranqüila, despretensiosa e cínica, que surge Eco, a criatura de silhueta de tamanduá.
Não tivemos o intuito de escrever isso nem para nós mesmos, nem para você. Mas ah, agora já foi. Sem pânico que, sorrateira como veio, quietinha também se vai morrendo. O que é uma pena e também alívio. Esse bicho, coitado, tem uma língua enorme que vive a tagarelar silêncio. Anda vagarosamente, metendo o bedelho e o focinho cônico a fim de descobrir sociedades organizadas. Dentro do absurdo literário que vive – ele não faz ideia disso – é um bicho racional e aparentemente diplomático com todo seu poder comunicacional e tagarelativo.
No entanto, por que não poderia ele dar vazão aos instintos mais naturais do corpo? Sua língua, sua enorme língua silenciosa, a diferencia dos demais; e a essa altura, quando nós aqui da narração pensamos em reprimir a ideia da iminente catástrofe que descrevemos parágrafo acima, as formigas descobertas já se ensoparam em sua viscosa saliva.
Este é um dos momentos mais estupidamente prazerosos do nosso herói. Sua morte é tão vívida e gostosa que volta taciturno, mas aventureiro, às suas caminhadas, buscando desdobrar os dobramentos selváticos de suas inofensivas savanas.
No meio de sua saga, o encontramos e trocamos ideias. Persuasivo e pegajoso, Eco foi furando nosso espaço de compreensão semântica com seu focinho inconveniente. Compramos a ideia! Não sabemos, mas de alguma forma nos identificamos e nos sentimos parte dele. E agora, quando mais nos simpatizávamos, por um processo longe de ser evolucional, Eco ia se apresentando numa silhueta cada vez mais humana – maldita hora que o antropomorfismo resolve restaurar a imagem de suas origens.
E assim padecemos a cada fluxo de palavra digerida que está agora tolhendo e abstraindo a imagem desse Eco depravado que, afinal, era parte nossa. Pelo mesmo motivo, juntos numa mesma porção de compreensão existencial, também choram esses tais nossos deuses.
Tudo que há no mundo faz parte da gente, parece estranho admitir, mas o Eco e as formigas é tudo tudo nosso. Como acredito que somos um pouco deles também. Acredito em algo místico que une tudo a tudo, mas, claro, pode ser apenas um desvaneio meu. Ou como disse no texto " apenas uma porção de compreensão existencial" pessoal =)
ResponderExcluir