quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eco

Esta é mais uma das criaturas antropomorfizadas e vítimas da metalinguagem. Não nos julgue: miseráveis é o que seríamos se as encontrássemos desfalecidas em suas submersões ontológicas e nada fizéssemos por elas! E é assim, intranqüila, despretensiosa e cínica, que surge Eco, a criatura de silhueta de tamanduá.

Não tivemos o intuito de escrever isso nem para nós mesmos, nem para você. Mas ah, agora já foi. Sem pânico que, sorrateira como veio, quietinha também se vai morrendo. O que é uma pena e também alívio. Esse bicho, coitado, tem uma língua enorme que vive a tagarelar silêncio. Anda vagarosamente, metendo o bedelho e o focinho cônico a fim de descobrir sociedades organizadas. Dentro do absurdo literário que vive – ele não faz ideia disso – é um bicho racional e aparentemente diplomático com todo seu poder comunicacional e tagarelativo.

No entanto, por que não poderia ele dar vazão aos instintos mais naturais do corpo? Sua língua, sua enorme língua silenciosa, a diferencia dos demais; e a essa altura, quando nós aqui da narração pensamos em reprimir a ideia da iminente catástrofe que descrevemos parágrafo acima, as formigas descobertas já se ensoparam em sua viscosa saliva.

Este é um dos momentos mais estupidamente prazerosos do nosso herói. Sua morte é tão vívida e gostosa que volta taciturno, mas aventureiro, às suas caminhadas, buscando desdobrar os dobramentos selváticos de suas inofensivas savanas.

No meio de sua saga, o encontramos e trocamos ideias. Persuasivo e pegajoso, Eco foi furando nosso espaço de compreensão semântica com seu focinho inconveniente. Compramos a ideia! Não sabemos, mas de alguma forma nos identificamos e nos sentimos parte dele. E agora, quando mais nos simpatizávamos, por um processo longe de ser evolucional, Eco ia se apresentando numa silhueta cada vez mais humana – maldita hora que o antropomorfismo resolve restaurar a imagem de suas origens.

E assim padecemos a cada fluxo de palavra digerida que está agora tolhendo e abstraindo a imagem desse Eco depravado que, afinal, era parte nossa. Pelo mesmo motivo, juntos numa mesma porção de compreensão existencial, também choram esses tais nossos deuses.

Um comentário:

  1. Tudo que há no mundo faz parte da gente, parece estranho admitir, mas o Eco e as formigas é tudo tudo nosso. Como acredito que somos um pouco deles também. Acredito em algo místico que une tudo a tudo, mas, claro, pode ser apenas um desvaneio meu. Ou como disse no texto " apenas uma porção de compreensão existencial" pessoal =)

    ResponderExcluir