segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Conselho

Tá tudo aí, não vê? Pergunta aí qual o programa que tem mais audiência na TV! Os que sangram, os que ardem. Vai mostrando no colorido da televisão: assassinato, chacina, tudo que se ensina. E que também se aprende só. Na marra, na prática, nessa sociedade. Chega é de dá dó. Tia, tem um trocado? Se não tiver eu te mato. O povo diz que tá na história, os assírios e os persas. Mas hoje em dia, quem cai numa conversa dessa? Quero saber de história não, Tia, quero saber de dinheiro, só isso que deixa meu bucho cheio. O homem para avançar tem que destruir tudo ao seu redor, é assim que a banda toca, foi assim que eu vi. Não viu? O moço na TV: vejam com exclusividade o mais novo morto da cidade!
É dinheiro e sangue. E com isso que vou formando minha gangue. Nada de manequeísmo, aqui num tem bem e mal não. Cinismo é o mais adequado, aqui é tudo do mesmo lado: cada um querendo o seu. E a gente vai vivendo como quer Deus.

Amanhã eu não vou pra escola, eu vou roubar, posso até cheirar cola, mas o mais importante é não cambalear. Olha lá, Joãozinho caído. Mais um menino perdido. No peito dele, ó que bonito, tá
nascendo um flor vermelha, cheia de brilho. Policial, policial, me ajude, acabaram de roubar minha carroça! Não posso sair do meu posto, você que se vire nessa joça! Liga pro 911 e se resolve com qualquer um. Mas policial, o senhor tem que me ajudar, isso eu vi no Jornal Nacional. Tia, eu não queria gostar tanto de dinheiro, só traz ferida! Mas quem é que vai acar com as dívidas? É luz, é água, é o homem na padaria. Mas mãe diz: desculpa filho, desculpa por só ter água e farinha. Liga não mãe, a Tia aqui vai me ajudar! Se não ajudar eu sequestro, ninguém vai me segurar!

Chamam de sensacionalismo! Não acredito nessa asneira, afinal de contas isso não é a alegria da nação brasileira? Mãe, hoje eu sou pobre, mas amanhã vou tá no jornal. Tenha certeza: vou ser herói nacional! Eu queria jogar futebol, gritar gooool, em dia de sol. Mas não, tenho muito o que fazer. Tá vendo aquele cara ali? Vai ser meu próximo assalto. E de salto em salto eu chego lá.

E ainda teve o plebiscito, ficar armado, sim ou não? É sempre melhor prevenir, nesse país de cão. Mas cuidado, pra num descuido qualquer atirar no próprio pé.
 Com licença, eu tenho que ir. Tenho muito mais o que fazer. Ajudar a mãe a lavar roupa, os pratos e sequestrar criança. E nem me venha falar de esperança. Eu não acredito mais. Não existe paz! É melhor se preparar, compre um arma, e um colete também.

Por que a guerra já está para começar.

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