domingo, 14 de agosto de 2011

Encontros

Foi assim, repentino. Ela acordou um dia e não quis mais conversa. O que eu poderia fazer? Todas as tentativas de contato foram eficientemente neutralizadas. Era como se nada tivesse existido. Um dia não resisti e fui à praça; Muitos podiam pensar que fui arejar as ideias. Também. Mas é igualmente importante o fato de que a praça fica de frente à faculdade dela.
Por vários dias fui e observei; procurei um banco limpo, sentei-me e procurei cuidadosamente. Meu corpo de vez em quando dava indícios de impaciência. Já os olhos não paravam: escaneavam todo e qualquer um. Inutilmente: foi assim por muito tempo, e um encontro nunca ocorreu. Por que me punha a passar por aquilo? Eu era incansável, autômato. Todas as etapas daquele momento se faziam de maneira mecânica, um ritual. Eu só queria ver minha amiga, conhecer essa sua nova vida, ainda que de longe. Mas ela insistia em fugir, com sucesso.
Próximo a mim sentava uma elegante senhorita loira. Seus olhos vigilantes eram como os meus: procuravam alguém. Percebia, vez ou outra, olhares furtivos, quase perfeitamente disfarçados, para mim. Um dia, o contato ocorreu - entre mim e a senhorita loira, importante expor. Não por minha parte; ela tomou a iniciativa.
-Não encontrou, não é?
Eu estava tão absorto que só consegui virar-lhe a cabeça. Ela continuou:
-Todos que vêm aqui logo saem porque têm um propósito em outro lugar. Estão em trânsito. Se ainda estamos aqui, é porque ainda não achamos o que queríamos.
É, ela acertou. Não só bela, também sábia. Já eu, sequer falei algo; criava frases na minha cabeça, mas elas soavam tolas demais para serem ditas. Limitei-me a concordar.
-Nós só achamos o que não procuramos.
Disse isso, sorriu e saiu. Não voltou no dia seguinte. Nem em diante.
Não posso negar que não consegui tirar a senhorita e suas palavras da minha cabeça. E isso só piorava à medida em que ela insistia em não aparecer. Para que vir falar-me e fugir?
E então, um dia, no portão da faculdade, estava ela. Não a senhorita, mas minha amiga, que outrora procurei sem cessar. Estava diferente? Sim, tinha o ar afetado; seus cabelos estavam bem mais compridos. Parecia mais adulta, mas por parecer acostumada à rotina. Não tinha mais a impressão ingênua de novidade que tem um jovem. Por todo seu trajeto até a parada, não me percebeu. Ao menos não demonstrou. Deu uns sorrisos acomodados a uns seus próximos, pegou o ônibus e partiu.
Será que esse encontro tinha me bastado, ou eu só cansei dessa rotina de procura? Quem sabe os dois. Ainda a vi outras vezes, ela sempre com o jeito de quem já conhece demais a vida para poder se impressionar. Quanto à senhorita loira? De vez em quando penso que ela foi enviada a mim, destinada. Nunca fui atrás dela; espero que ela também não me procure. Vai ver nos esbarramos por aí.

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