segunda-feira, 13 de junho de 2011

Voei

Eu tentei e fui com a vida. Caí de cabeça, me joguei, sejam quais forem as velhas e batidas metáforas que se usam para aqueles que se entregam por completo, quase se podendo ver a alma deixando corpo. Foi assim que fui.
Não sabia bem o que esperar. Mas não é assim que é quando se voa? Apenas corri, para então dar um salto e fechar os olhos. Daí em diante o chão não mais tocava meus pés. Me ceguei para não procurar o solo em desespero. Os pés, o corpo, tudo seguiu. Talvez as pontas dos meus dedos levantassem uma leve poeira ao passar tão rente. Mas logo me alcei, e fui além.
E foi assim que me lancei. Senti o vento em meu rosto, braços, peito, pernas. Senti meu corpo oscilar em direções que não bem entendia quais eram. Senti que voava, que as forças que me atrelavam ao que quer que fosse não mais existiam. Senti frio, aquele frio maravilhoso na barriga que dá vida ao seu estômago! Talvez tenha até sentido medo, mas foi medo que logo explodiu e virou alguma coisa boa demais pra ter nome. E daí se não via? Os meus olhos estavam inundados por uma luz escura, pelo mais claro dos negros! E além do mais eu ouvia, cheirava, tateava o ar que me corria. Eu vivia.
Eu voei. Eu me lancei com a vida. E ela me traiu. Um puxão então me tirou de transe. A visão começou a voltar. Tudo o que enxergava passava rápido, durava o tempo de um instante. Menos o chão. Ele estava lá embaixo, fixo, inerte. Tragando-me. Caí, e aí voltei a ser tudo o que não era.
Quanto tempo teria durado, isso de estar tão mais em mim do que jamais estive em vida? Não sei. Durou o que devia. Seja o que foi, havia em mim a certeza do fim, desde que me pus a correr. Mas não havia como não evitar. Lancei-me de todo, e depois caí. Qual o problema? O importante é que voei.

Um comentário:

  1. Acho que ao fim, restam apenas os pequenos e infinitos momentos de voo. E daí que acabou? É tanta vida em um segundo, é um segundo de eternidade.

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