quinta-feira, 21 de julho de 2011

Fato concreto

"Morre homem atingido por bloco de concreto" .
É assim que tava a manchete. E em cima da frase um tímido: Zona Norte do Recife.
Morre homem.
 Sem rosto.
Na Zona Norte.
Como tantos outros que morrem diariamente. Silenciosos. O homem, que pode ser qualquer um, ser vários, ser daqui ou de lá, morreu enquanto trabalhava.
Morre homem. Atingido. 
A manchete tem que ser assim mesmo: curta, grossa, concisa.
Como um bloco de concreto.
  

"A vítima sofreu um traumatismo cranioencefálico e respirava com ajuda de aparelhos". Não sei qual aparelho pode me ajudar a respirar. Parece que todos sufocam. Acho que tive um traumautismo também. Tudo é trauma agora. Penso no homem, penso em mim. Penso que na quarta ele se chamava Lúcio e agora é o homem do bloco de concreto. Morto. Tudo trauma. Tr-alma.

É sabido que o noticiário do jornal nunca chega perto da gente. Foi o que disseram!
Não viu?
A vizinha alvejada naquela cidade.
Não viu?
O pai  morto em um assalto. Era dele? Era seu?

O homem morto com o bloco de concreto não tinha nome.
Não tinha identidade.Não tinha voz.
No fundo era só mais um:
igual a todos nós.

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