terça-feira, 12 de julho de 2011

Olinda dorme.

Acordo cedo e saio fininho pra não te despertar. É sempre assim. Tu, ainda sonolenta, me dás um sorriso de Bom dia. Mal sabes tu que saio pra passar o dia com a outra. Tu, calma e preguiçosa, passas o dia a dormir. Meu Deus como me angustia esse teu sono eterno! E é por isso que corro pr’a outra, todos os dias. Talvez por necessidade, talvez por capricho, talvez por nada! Te deixo pra trás sorrindo, dando tchau sonolenta por cima do muro. Corro porque a outra tem pressa. A outra tem sede de mim. Ela me consome até o último pingo de suor. Desidrata e alimenta. Consome e constrói. E é nessa dicotomia que meu relacionamento com ela se leva. Já se tornou um vício, meu amor, não posso voltar atrás! Eu bem queria ficar aqui dormindo contigo, que me olha terna sem vontade de sair da cama. Mas sem ela, acho que não te suportaria. Não suportaria tanta calmaria sem uma dose de desespero! Dói, eu sei. Desculpa te dizer isso agora, quando o sol mira teu ponto mais lindo, mas é que precisavas urgentemente saber. A beleza das sombras que teus muros fazem na Igreja da Sé e eu te falando isso, meu amor. Perdão, perdão! Quantas vezes te chacoalhei pra que despertasses? E fadigada continuasses a preguiçar, mas me esperando no fim da tarde sempre com o mesmo amor. Amor ingênuo, amor que te deixa com o mesmo sorriso que se despedira mesmo depois de te abandonar todo o dia. És linda, meu amor! Mesmo lenta assim, mesmo preguiçosa assim, mesmo inerte assim.

6 comentários:

  1. Eu diria que ela hiberna. Armazena suas energias, se guarda por longos meses. E em fevereiro ela explode.

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  2. " E em fevereiro explode" Mas me pergunto se explode dela ou de estrangeiros. E logo me vem o questionamento se a outra, se não fosse os estrangeiros, seria desesperada assim. É meio sem solução, meio sem questionamento. Mas pelo menos tens a opção de escolher, se é de correrias que queres, tens para onde ir, se queres respiro e fôlego, também sabe onde encontrar nos fins da tarde. Aos poucos tu vai formando teu ninho em duas árvores, tendo dois lugares pra chamar de 'seu'.

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  3. Eu me sinto bem diferente. Gosto de Olinda justamente por isso, pelos barzinhos tranquilos, por esse vento de praia que em Recife é roubado pelos paredões de concreto. Em Recife é preciso ser rico pra desfrutar do cheiro de mar ou ainda ter dinheiro pra gastar nos bares que são ventilados por eles. Olinda é mais cordial, tem mais paz e menos segregação. A coisa ruim de morar aqui é só o deslocamento por conta de algumas coisas ficarem em Recife (UFPE, por exemplo). Acho que se pudesse puxar só umas 5 coisas de lá pra cá, ficaria muito mais satisfeito.

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  4. Mas isso é questão de opinião, óbvio. O que me incomoda muito mais é a dignidade do lugar do que o ritmo dele. Mas como nenhum canto é realmente digno, tenho muito mais carinho por Olinda.

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  5. É como eu comentei no texto de Fernanda Lima, Reinventar, as vezes o amar faz vermos as coisas diferente, ou, ao menos, mudarmos certos valores. Como Olinda, que apesar de vê-la ficar com a outra todo dia, ainda sorri no fim da tarde. Como Jimmi que vê da calmaria, um abrigo.

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