sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pindorama: a consciência nacional

                Banditismo no Recife, guerrilha em Bogotá, bombardeios em Trípoli. A família digere o jantar diante do noticiário. A mãe cobre a boca com as mãos um pouco tesas ao ver a notícia do bebê jogado no lixo; a vó manda as crianças saírem da sala quando a câmera se aproxima do corpo ensangüentado; o pai brada que essa política é uma vergonha, depois se reclina mais contra o sofá.
Alguns analistas políticos reclamam que os brasileiros são excessivamente letárgicos. É uma palavra meio difícil, pensa o escritor, mas não acha outra melhor para substituí-la. Onde está aquele Brasil dos anos 70?! Parece que ele tem nostalgia da ditadura, estranha o estudante do ensino médio, observando o professor de história. Essa juventude só pensa em si mesma! E a moça deixa a senhora apressadinha passar na frente na fila do ônibus.
Anteontem leram no jornal o manifesto do extremista norueguês – aquele, que matou não-sei-quantos adolescentes. Citou o Brasil, dizendo que a corrupção que assola o país é um dos frutos da miscigenação racial.
A sala fica suspensa ante a tensão dos presentes: ninguém tem coragem de cruzar o olhar. Meu deus, que monstruosidade!, alguém talvez arrisque. Quando se passar para os comerciais, entretanto, mais afundados no sofá ou na poltrona, desgraçados e envergonhados, os presentes ficam achando que, no fundo, aquilo tudo é verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário