terça-feira, 2 de agosto de 2011

No calor da bolha

Ao som de Sonhos, Sonhos são; Chico Buarque

Surges em uma bolha de calor
Deitado, assim
Colchão velho, janelas fechadas
Nosso espaço nosso espaço nosso
Miro olhos desconhecidos

Conhecidos.
Desconhecidos.

Miro olhos que se agrandam quando chego perto
Que viram um só olho
Que se fundem nos meus olhos
E somos um só canal.

Tens o perfume de cachaça e suor
Tenho o perfume Kashmir
Comprei em Maputo ou Meca ou Bogotá
Não lembro. Não lembro onde estou.
Teu perfume me lembra meu canto

Teu canto é calado
No calor, tu te callas
E me miras de perto
E suas como se me pedisses águas eternas,
Fluidos que tirariam tua sede

E eu só peço uma palavra
Mas tu me torturas com o silêncio
Assim vivo o eterno desconhecido
Que língua falas, meu Deus?

Tu só queres águas
Eu só quero palavras
E vivemos as nossas insatisfações no calor!

Na bolha que não se estoura,
No canal que não se rompe,
Na sede insaciada,
Na mente atordoada

Me colocas na bolha pra tirar-me o suor
Tira-me a roupa para beber tudo o que resta
Assim tu te sacias.

Já a minha sede...
Prossegue.
Tento ler-te as mãos,
Mas não tem linhas tua palma.


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