quarta-feira, 21 de setembro de 2011

queda livre

Primeiro ele apareceu. Não que nunca tivesse aparecido, mas dessa vez foi diferente. Tava mais presente, talvez meus olhos finalmente tivessem notado aquela luz. Talvez ele tenha decidido se mostrar, mas o fato é que de regata e óculos, e com luz avermelhada ele apareceu.
Nunca havia notado aquele sutaque, aquele jeito, aquele corpo. E com o tal acontecimento repentino, ainda cambalei para sentir o todo. Nunca havia me pertubardo com aquele andar, de quem não espera nada, que tudo é surpresa e que nada tem controle. Ele era o deboche, zombava de tudo com frases poéticas de butequim.

Cenas passadas em slides rápidos. Cerveja noite táxi provas shows sonhos susurros gritos estrelas carros postes sorriso conversas livros abreu lispector kant hegel bergman persona quintana pessoa animal uísque afetamina xadrez listrado ruídos ônibus caminhos perguntas sentidos estopim:


foto: Requiem for a dream/divulgação
 câmera lenta,
silêncio abafado,
mergulho: cabeças deitam lentamente sobre o concreto.


Primeiro ele apareceu. Como não quer nada, sorrateiro. Invadiu meus olhos, minha cabeça, meus lugares. Invadiu meus amigos, minhas festas, meus segredos. Não satisfeito, invadiu até minha casa, meu repouso e minhas entrelinhas.
Como uma cobra, o som do chucalho incomodava, seduzia, mas não deixava claro a que distância ele estava, que horas ia atacar ou se ia atacar. Como uma cobra, que carrega o veneno e antídoto em si, não mais que duas vezes é necessário para tudo que se construiu, se destrua. Com os olhos de ciganos que não me enganam mais, foi assim,

que pela primeira vez ele apareceu.

Um comentário:

  1. É engraçado quando nos apaixonamos por alguém que conhecemos há muito tempo ... Como se, um dia, simplesmente voce vê a pessoa com "outros olhos" e aí já é tarde, porque só notamos quando estamos dominados pelo sentimento!

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