terça-feira, 5 de julho de 2011

Prefiro a ovelha negra

Nunca foi o tipo de garota certinha. Aliás, sempre aparentou ser a garota certinha, mas só aparência. Afinal, a grande contestação, o ponto fora do eixo, o que te faz ser realmente a ovelha negra não é não estar no padrão, é questioná-lo. Então é bem aqui que começamos a história:

Quis ser menino pois não aceitava ser tratada diferente - percebeu depois que o feminismo era o que procurava. Já quis ser da CIA pra colocar na cadeira qualquer um que fizesse mal a um indefeso. Cismou certa vez em ser freira, andava com a bíblia na mão e um terço no rabo de cavalo - não tenho muita explicação pra isso. Fugiu de casa por uma tarde, construiu um lar na beira do rio, anoiteceu e a fome apertou, chegou a tempo pro jantar. Fez primeira comunhão, toda enfeitada, glória ao Senhor. Teve aulas de Filosofia, conheceu um mestre que mudou sua vida. Questionou, muito. Mas o que existe mesmo, no fim de tudo? Chorou bastante, lápis pretos nos olhos, músicas melancólicas, ideias idiotas na cabeça. Ateísmo ou Agnosticismo? Agnóstica. Queria ver espíritos, mas só os ouviu. Queria uma experiência de quase morte, sempre se segura no último segundo. Voltou ao plano real, havia de fazer algo pelo próximo. Sol, suor, trabalho e sorriso. O sentimento, impossível de descrever, de levar um tanto de alegria a uma criança é capaz de alimentar vidas inteiras. Descobriu que nasceu pra ser mãe. Sofreu algumas vezes, por alguns muitas vezes desprezíveis - superou, enfim. Leva alguma cicatrizes, mas muitas lembranças dos sorrisos conquistados. Certo dia deparou-se com a arte e nunca mais a deixou. Encantou-se com a fotografia, mas a colocou como segundo plano, ela iria agora escrever. Mas não só o que lhe pedissem, iria escrever e tocar as pessoas. Escrever pra aprofundar feridas, achar o causador das infecções e ajudar o enfermo a se curar. Escreveria, arriscaria e não hesitaria porque, no fim, avaliou que não há recompensa maior que quando se doa ao outro. E, bom, a menina esteve sempre contrariando o dito, o imposto - sendo tantas vezes criticada ou injustiçada. Não importa, ela nunca deu atenção. A menina é a ovelha negra que coloca o mundo too a sua frente, porque é pro mundo que ela vive, e só assim há sentido e motivos pra continuar nessa aventura.

3 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa. Espero que o blog tenha vida longa, inclusive após a universidade. Eu escrevo no Blog das 30 pessoas desde a sua fundação, sou o dia 17 ;). Também participo de outros blogs coletivos, um, inclusive, com outros amigos que se formaram comigo. É legal, a gente mantém contato ao mesmo tempo que exerce o exercício da escrita. E é exercício mesmo, que exige prática diária e uma certa necessidade de inspiração constante.
    É isso aí, desejo muito sucesso a todos.
    Abraços, Tatiana Lazzarotto

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  2. Obrigado Tatiana! É bom saber que temos apoio :)

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  3. tava escrevendo algo hoje sobre uma fotografia antiga que tenho aqui. Uma árvore, no inverno outono, sem folhas. A foto foi tirada com uma grande angular de baixo pra cima, entao apesar do desolamento da árvore vazia, mostra-se um céu imenso, azul, com raios de sol entrando na lente. Acho que a menina é bem assim, apesar de sem folhas, as vezes, sem fôlego, sem chão, ela ainda está voltada pro céu que brilha. Porque pra frente é que se anda e por mais que te digam não, sempre pode se dizer pra se mesmo: sim.

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